Artigo por Tatiane Hardt
“A arte é minha vida. Meus quadros são filhos que alimento com tinta”
Esta frase abre a entrevista que o artista visual com síndrome de down Lucio Piantino¹ concedeu para o artigo “A arte acessível para todos”, do Jornal de Brasília².
O sentimento é certamente familiar a todo e qualquer artista que vê nas artes sua vocação: “A arte é minha vida.”
Já se vão 15 anos em que a Lei Federal de Incentivo à Cultura (antiga Lei Rouanet) exige que todos os projetos culturais apresentem um planejamento de acessibilidade para que seja garantido o direito de acesso à cultura para pessoas com deficiência.
Apesar dos avanços do Plano Nacional de Cultura e da Lei Brasileira de Inclusão – em vigor desde 2016 – ainda vemos um tímido avanço no que diz respeito à acessibilidade cultural, e na oferta de mecanismos de formação, informação e conscientização.
Isto se reflete claramente no ambiente acadêmico, que muito pouco ou nada desenvolve no preparo destes futuros profissionais para atender essa demanda mercadológica e social. Segundo o último censo divulgado pelo IBGE, cerca de 25% da população brasileira é composta de pessoas com deficiência. Isto significa que exceto dentro da própria comunidade de pessoas com deficiência, 25% do público não é plenamente contemplado nas ações culturais ofertadas. E quando ofertadas, costumam ser pensadas apenas para um tipo de deficiência: acessibilidade em LIBRAS para pessoas surdas, mas não de audiodescrição ou tour tátil para pessoas cegas, por exemplo.
ARTE QUESTIONADORA
A arte, na sua função social, do questionamento à ruptura, exige de nós artistas a quebra de padrões pré-estabelecidos. Faz parte do processo criativo a busca permanente pelo novo, uma caminhada expansiva daquilo que nos habita. No fazer artístico, vislumbrar a obra antes de colocá-la em prática é também pensar no que desejamos que o público sinta e entenda daquilo que queremos transmitir. Esta liberdade absoluta na hora da criação artística precisa se refletir em acesso irrestrito também ao resultado da pesquisa.
Nas artes visuais, esta conexão entre criação e acesso à obra é costumeiramente ignorada. Seja por falta de conhecimento, seja por ignorância de uma realidade que não é a sua, quando o artista não é uma pessoa com deficiência, existe essa tendência de recorte de exclusão inato à sua obra, especialmente em relação à comunidade não vidente.
Realmente há vários desafios e etapas a serem vencidas no processo de entender o que é e como funciona a acessibilidade cultural, quais os tipos de acessibilidade para cada deficiência, o que é democratização de acesso, como aplicar esses mecanismos na arte, quais as formas de garantir a acessibilidade sem encarecer o projeto com pouca verba disponível, e assim por diante.
É um processo que envolve desde a quebra de preconceitos como o capacitismo, passa pela empatia e disponibilidade para aprender, e chega na provocação que deixamos com este artigo:
“Você pensa sua obra para todos os públicos?“
Na ESQUINA GRÁFICA seguimos nessa jornada de aprendizado e convidamos você a se juntar a nós. Para entendermos mais, e juntos fazermos melhor. Porque para nós existe uma certeza: que Arte e Cultura são vetores de mudança social e inclusão, de quebra de barreiras e preconceitos – sejam quais forem.
¹Conheça o trabalho de Lucio Piantino no instagram
²A arte acessível a todos, por Arquivo Geral – Jornal de Brasília
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