Esquina Gráfica

Qual é a diferença entre desenho, ilustração e gravura?

audiodescrição simplificada de fotografia: uma mulher negra de cabelos castanhos escuros debruçada sobre uma mesa branca. Segurando um lápis, ela desenha sobre uma folha de papel branco, que está acompanhada de outra folha de papel branco com esboços desenhados a lápis, ao lado sobre a mesa. Ela usa uma blusa de manga comprida marrom claro, tem o cabelo curto arrumado em estudo black power. Ao fundo uma parede branca, e parcialmente um quadro que está encostado na parede no chão, atrás da mesa.
Foto: RF Studio

Por Tatiane Hardt

– Qual sua profissão?

– Sou ilustradora.

– Ah, que legal! Mas o que faz uma ilustradora?

O diálogo acima é lugar comum na vida de quem trabalha na área de ilustração, já que no Brasil a profissão não é regulamentada e não existem faculdades específicas para a área. Quem busca formação acadêmica geralmente escolhe entre design gráfico, artes visuais ou outra área que se encaixe vagamente no setor de economia criativa ao qual pretende se dedicar.

Esse é um dos motivos para que a profissão seja pouco conhecida ou mesmo ignorada no mercado de trabalho, até no caso do profissional Freelancer, já que o profissional autônomo que busque formalização como MEI (Microempreendedor Individual) não encontrará um CNAE que contemple sua real atuação.

Mas afinal, qual é a diferença entre ilustração, desenho e gravura? Estamos aqui para tirar essa dúvida de uma vez por todas.

Ilustração, desenho e gravura são três técnicas se convergem, mas não necessariamente são a mesma coisa. Possuem aplicações mais específicas e diferentes mídias utilizadas no seu desenvolvimento. Mídias, nesse caso, não são as sociais, mas sim o material e técnica aplicados na criação, que pode ou não envolver tecnologia digital.

DESENHO

Um desenho é uma criação livre, que está muito mais conectado à criatividade do artista, que não tem nenhuma obrigação de
representar algo, real ou imaginário. Se trata de uma técnica específica aplicada de forma analógica – com materiais como papel, caneta, lápis, tinta, pincel, etc; ou digital, à partir de aplicativos dedicados como o Illustrator, procreate, ibis paint, etc. O resultado da obra criada está diretamente relacionado ao material selecionado para sua composição, com grandes variações no desenho final.

Portanto, o desenho se caracteriza pela liberdade criativa, essencialmente como uma composição bidimensional. Quando esta composição
possui uma determinada intenção estética, o desenho passa a ser considerado uma expressão artística. E quando o desenho é orientado para
representar algo, passa a ser uma ilustração.

ILUSTRAÇÃO

Um desenho e uma gravura podem ser uma ilustração. Mas uma ilustração não necessariamente é um desenho ou uma gravura. Explico:

Uma ilustração é uma representação visual de uma mensagem a ser comunicada. Podendo estar acompanhada de elementos textuais, como no caso de livros, revistas e cartazes, por exemplo. Mas neste caso, sua função costuma complementar a narrativa textual, incorporando mais informações visuais para apresentar a ideia central a ser comunicada. A ilustração pode ser um desenho, mas também uma fotografia, uma gravura, colagem ou quaisquer outras representações visuais, como o Gif, quando falamos de ilustrações digitais contemporâneas.

Portanto, a ilustração se caracteriza especificamente por representar uma ideia, um conceito, algo a ser comunicado. As ilustrações podem ser classificadas por sua função e área de aplicação. Conheça algumas das áreas em que um ilustrador pode atuar:

  1. Ilustração Editorial – é aquela aplicada em livros, revistas, comics, etc.

  2. Ilustração Científica – é aquela que se aplica às ciências, como por exemplo uma ilustração representando as fases da vida de uma borboleta. As técnicas mais comuns são desenhos e pinturas hiper-realistas e fotografia.

  3. Ilustração Botânica – é uma área da ilustração científica que se dedica exclusivamente à ilustração e catalogação de espécies de plantas, geralmente apresentando diferentes fases de crescimento da espécie, e acompanhada de suas nomenclaturas científicas.
  4. Ilustração Instrucional – pouco conhecida, porém presente em quase todos os produtos que consumimos, são as ilustrações dedicadas à explicação de como usar algo. Como abrir, como montar, etc.

  5. Ilustração Jornalística – é aquela criada e divulgada nos jornais multiplataforma, que incluem a versão mobile (para o acesso por dispositivos móveis), impressa ou através de portais (sites e plataformas). Inclui-se Desenho de Humor (Caricatura, Charge, Cartum e História em quadrinhos) e toda ilustração que visa representar conteúdo opinativo no jornalismo, assim como a Ilustração para Infografia-Ilustrada. Para saber mais sobre o assunto na atualidade sugerimos a leitura da dissertação de mestrado de Vinicius José Shindo Mitchell (2018).

  6. Ilustração Publicitária – é aquela focada em destacar o produto em espaços de divulgação publicitária, sejam revistas, jornais, sites, redes sociais, folders, etc. A ilustração publicitária é um exemplo que deixa muito claro o papel da ilustração no fortalecimento e posicionamento de uma marca, sendo comprovadamente responsável no aumento de vendas e na escolha do consumidor por determinado produto ao invés do concorrente por se identificar com a ideia representada na peça publicitária.

  7. Infográfico – são textos visualmente explicativos e informativos associados a elementos não verbais, tais como ilustrações, sons, gráficos, hiperlinks etc. São utilizados com frequência na mídia impressa e digital, tendo como principal função informar o leitor. Neste caso a ilustração está sempre mesclada ao texto ou outros elementos de composição.

  8. Ilustração de Embalagens (packaging) – é aquela aplicada nas embalagens de 100% dos produtos que consumimos. Mais do que um produto, a ilustração de embalagem vende um conceito, um elo de identificação entre produto e cliente, que pesquisas apontam ser o fator decisivo na escolha de um determinado produto em detrimento de outro da concorrência. Um ótimo exemplo é o mascote que algumas marcas associam ao seu produto, como o tigre do salgadinho Cheetos, ou o urso polar da Coca Cola. Com função similar e geralmente em harmonia com a ilustração publicitária, é uma área da ilustração que está presente em nossas vidas sem nem percebermos. Costuma estar alinhada com a identidade visual e posicionamento de marca da empresa ou de determinada campanha realizada por ela.

GRAVURA

Gravura é o termo utilizado para nomear uma técnica que se caracteriza pela utilização de uma matriz que pode ser feita de metal (calcografia), pedra (litografia), madeira (xilogravura) ou tela (serigrafia ou silk screen) na criação e impressão final de uma obra visual.

A placa (que terá o tamanho similar ao da obra final) é esculpida para criar o desenho a ser impresso, onde se aplica uma camada de tinta e, por fim, se aplica o papel para realizar a impressão da obra. Essa placa se chama matriz, e pode ser utilizada para a reimpressão de quantas peças visuais se desejar produzir. Existem dois tipos de gravura:

– Em horizonte, ou em encavo: neste modo de trabalho o sulco vai receber a tinta e aparece como positivo no trabalho final.

– Em relevo: a superfície em alto relevo é que recebe a tinta, e o sulco aparece em negativo (sem a presença da tinta).

“Sobre a origem propriamente dita da impressão xilográfica, feita com matrizes de madeira gravadas em relevo, acredita-se que possa ter surgido na China, nos finais da dinastia Sui (581-618) ou inícios da dinastia Tang (618-907), embora faltem exemplares ou notícias desse facto. Talvez porque ele nunca foi reconhecido como algo de extraordinário pelos seus próprios contemporâneos. Assim, as mais antigas evidências conservadas da impressão chegam-nos da Índia, da Coreia e do Japão: o quase lendário monge chinês Xuanzang (ca. 600-644 ou 645) teria ele próprio executado impressões 5 na Índia e um outro monge Yijing, (635-713), que meio século mais tarde visitou a Índia 6, relata o uso de matrizes de barro para estampar imagens de Buda, em 691. Na Coreia, conservou-se uma escritura budista (Sutra Dharani, da Luz Pura) que teria sido traduzida por um tal monge Mitasan, cerca de 704, e colocada no Templo
Hwangboksa em 706. Qualquer que seja a sua data de impressão, ela será sempre anterior a 751 7, o que torna esta Sutra possivelmente o mais antigo documento impresso no Mundo.”

Fonte: Artigo “1.000 anos antes de Guttemberg”, de A . E . Maia do Amaral na revista Cadernos Bad

 

audiodescrição simplificada: fotografia vista de cima, de uma placa de metal sobre uma peça retangular de madeira, sendo trabalhada com detalhes de entalhe para a composição de uma matriz de gravura por uma mão masculina branca, vista somente do pulso para as pontas dos dedos, usando um casaco marrom.
Foto: Ahmet Çiftçi

No Ocidente, a gravura começou com o advento do papel no século XIV. Em meados do século seguinte, porém, a tecnologia começou a ganhar destaque na Alemanha e na Itália. Desenvolvido por ourives, esse método se espalhou por toda a Europa. A partir desse período, os artistas ocidentais que usavam a gravura passaram a ser chamados de mestres da gravura.

As gravuras são assinadas, numeradas e datadas pelo artista criador, incluindo ainda a quantidade de cópias, geralmente no rodapé ou no verso da gravura. Quanto menor o número de exemplares produzidos, mais a gravura é valorizada. Isso ocorre em consequência do desgaste natural da matriz, pois as primeiras imagens saem da matriz menos desgastadas. As primeiras gravuras costumam pertencer aos artistas e estas recebem uma sigla denominada P.A., que significa a Prova dos Artistas.

#Curiosidade

Carlos Oswald, nome de destaque como precursor da gravura no Brasil, foi ainda responsável pelo desenho final do Cristo Redentor, monumento que se encontra na cidade do Rio de Janeiro, no morro do Corcovado. Em 2007, o artista teve sua vida levada para as telas através do filme-documentário Carlos Oswald – O Poeta da Luz, dirigido por Regis Faria e com Fernando Eiras no papel de Carlos Oswald. A abordagem enfoca o grande descaso dos brasileiros com a arte e os artistas nacionais, além de revelar mais informações sobre a trajetória do renomado artista.

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